Saturday, October 1, 2016

O sistema que só "funciona" para poucos.


Há mais ou menos 189 países capitalistas no mundo e os exemplos de prosperidade são sempre os mesmos 4 ou 5 paisecos com população pífia, economia pífia e área territorial insignificante. Eu chamo isso de forçação de barra, não sei vocês.

Mas alguém já se perguntou o motivo disso? Bom, para entendermos melhor esse cenário, vamos coloca-lo numa escala menor. Ao invés de falarmos de países, falaremos de pessoas. Sob o capitalismo, existem divisões sociais, essas classes separam os ricos dos pobres. O sistema precisa da garantia de sempre haver pobres, pois é essa a parcela da sociedade que produz e serve a minoria social que acumula riquezas. Não é bom que o números de pobres diminua, pois haverá cada vez menos gente para servir, sem serviçais não há produção, sem produção não há o lucro que gerará riqueza acumulada.

Com os países é a mesma coisa, não é bom que muitos países se desenvolvam economicamente pois isso atrapalharia o fluxo normal dentro do sistema capitalista, pois assim como há trabalhadores serviçais, há "países serviçais". Os países que servem devem continuar servindo ao mercado através de commodities (matéria prima para a fabricação de produtos de alta tecnologia) ou fornecendo produtos de baixo valor agregado, além de mão de obra barata. É importante que o sistema continue somente funcionando para poucos, pois assim a notória distribuição desigual de riquezas do sistema capitalista é perpetuada, e o substancial acúmulo de riquezas se restringe a poucos países. 

Porém é fundamental perceber que a história nos conta que os países economicamente desenvolvidos alcançaram a prosperidade aplicando receitas econômicas muito diferentes das que atualmente recomendam ao países em desenvolvimento. Tais países apontam o caminho errado a ser seguido para chegar ao desenvolvimento. Essas recomendações vem da OMC, do Consenso de Washington e do FMI. Acontece que a Inglaterra, a França, a Alemanha, ou o Japão, ente outros, aplicaram proteção tarifária e subsídios às suas indústrias antes de estarem de fato prontos para o, dito, livre mercado. O detalhe é que desde os anos 80, as recomendações feitas aos países em desenvolvimento são exatamente opostas ao que os países, hoje, ricos fizeram no passado. Sem condição alguma, muitos países do "Terceiro Mundo" aceitam abrir a sua economia, privatizar industrias estatais prosperas, acabar com barreiras e subsídios, etc. Seguem fielmente o que a OMC, o Consenso de Washington e o FMI recomendam; mas o desenvolvimento nunca vem, muito pelo contrário.

Quando o óbvio consequentemente aparece, essas organizações geralmente afirmam que as medidas tomadas não fizeram efeito porque algo como a falta de capacidade, ou falta de vocação, de um determinado país para a economia de mercado (para não citar uma "falta de espírito empreendedor", ou "herança cultural", até mesmo uma "população com baixo QI") foi determinante. Jamais reconhecem o fracasso de suas recomendações, vendidas como "remédios", mas sempre mostrando feito de veneno. É até possível citar uma exceção em meia a tanta canalhice; na edição de junho de 2016 da revista Finance & Development, há um artigo proveniente de um dos maiores defensores do neoliberalismo, o Fundo Monetário Internacional (FMI); artigo esse, de autoria de três economistas da instituição, reconhecendo que o receituário neoliberal, prescrito pelo próprio FMI para nortear o crescimento econômico sustentável em países em desenvolvimento, pode ter efeitos nocivos de longo prazo, dado que, em vez de gerar crescimento, algumas políticas neoliberais aumentaram a desigualdade, colocando em risco uma expansão econômica duradoura, isto é, prejudicando o nível e a sustentabilidade do crescimento. O que, na verdade, só reafirma que as recomendações feitas pelo FMI não devem ser seguidas.

Se a corrente de subserviência não for quebrada pelos “países serviçais”, nada mudará.
Cada país precisa seguir o seu caminho para resolver o seus problemas internos. Para finalmente se desenvolverem economicamente, os países pobres devem recusar o modelo de ajuda econômica internacional, que nunca funcionará satisfatoriamente; depois precisam garantir que as instituições públicas locais sejam desburocratizadas; além de integrar os mais pobres num único sistema econômico formal, gerando registros de propriedade que podem ser convertidos em capital. 


Garantir a existência de um único sistema formal legalizado de propriedade é um passo importante para superar a secular burocracia e ao mesmo tempo melhorar o padrão de vida da maioria social nos países em desenvolvimento. Pois é tirando milhões da informalidade que será possível a geração de capital formal, o que consequentemente movimentará milhões na economia local, aquecendo muitos setores da economia e melhorando o padrão de vida dos mais pobres. É isso o que invariavelmente vemos nos tais 4 ou 5 paisecos com população pífia, economia pífia e área territorial insignificante que sempre são citados por aí como grandes exemplos de sucesso do capitalismo, mas que nunca deram ouvidos ao que a OMC, o Consenso de Washington e o FM tem, ou tiveram, a dizer. Assim, podem fazer parte da minoria para a qual o sistema “funciona”.

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