Tuesday, February 23, 2016

A pegadinha do Sanders


De uma vez por todas, entendam que Bernie Sanders não é socialista, nunca poderia ser, o que o candidato quer é apenas um "capitalismo mais gentil", como isso fosse possível. Não acreditem nessa propaganda barata que estão espalhando pelo mundo. Aqui no Brasil muita gente engoliu esse papo furado. O que Sanders pode ser é apenas a opção menos pior para o alienado eleitor dos EUA, que pode votar no candidato do partido republicano, provavelmente um Donald Trump da vida.

O senador Bernie Sanders é um milionário que buscou ter a imagem de um "outsider" na política estadunidense, onde para ser um candidato com chances de eleição, é preciso ser parte do influente mundo financeiro ou figura já ligada ao governo. E como um "outsider" poderia ser persuasivo numa eleição? Oras, difundido um discurso populista, prometendo mundos e fundos, buscando um público alvo que possa ajuda-lo a se eleger e fazer discursos com tudo o que esse público quer ouvir. Sanders propõe ampliar o controle sobre os bancos e tornar gratuito o acesso à saúde e às universidades públicas. Essas coisas não são tão comuns nos EUA, então soam "socialistas" numa terra onde a maior parte da população resistirá à idéia de eleger um presidente que se defina socialista ou defenda tais idéias. Porém, o próprio senador já fez questão de especificar a sua posição política, ele se colocou como "socialista democrático" contrário ao comunismo. A sua declaração não foi dada sem pensar, pois uma pesquisa do instituto Gallup de junho de 2015 revela que o rótulo de socialista é um grande obstáculo nas eleições. O estudo indicou que só 47% dos entrevistados pelo país votariam num candidato socialista que vencesse as prévias de seu partido, enquanto 50% afirmaram que não o apoiariam. A rejeição a um socialista é superior a um candidato que seja ateu (40% não o apoiariam), muçulmano (38%), evangélico (25%) e gay ou lésbica (24%). Surpresas?

Considerar Sanders um socialista é uma prova de total ignorância, até uma falta de respeito para com os socialistas do mundo. Sanders, na prática, está muito mais alinhado aos valores liberais do que propriamente socialistas. O que ele tem em mente é promover o liberalismo, mas tendo como referências os modelos escandinavos. Talvez ele seja mesmo mais progressista, em tese, do que Hillary Clinton, mas isso não o coloca como o nome a ser apoiado numa eleição na terra do imperialismo moderno.

O partido democrata jamais mudará nada, portanto nunca terá um candidato que almeje mudanças significativas no país. Essa ilusão plantada na mente dos ingênuos gera um alento traiçoeiro, ainda mais com a falsa noção de que um candidato à candidato à presidência dos EUA seja de alguma forma socialista. Ele é simplesmente mais um capitalista estadunidense, nada mais do que isso, o fato de ele ter um pouco mais de consciência social não necessariamente o transforma em um socialista.

Espero que tenham entendido e não caiam nessa pegadinha! É bom lembrar de 2008, quando os democratas voltaram ao poder. As pessoas mundo afora estavam eufóricas com a eleição de Barack Obama, a sua imagem foi planejada para que ele fosse assumido como uma espécie de herói que poderia não só salvar os EUA, mas o mundo. Obviamente, ledo engano, que mais tarde até gerou uma onda mundial de decepção com o seu governo em relação às expectativas ingenuamente criadas. Com Sanders o erro parece se repetir e de forma ainda mais grave; caso ele seja o candidato democrata e se eleja, a decepção será brutal. Mas indubitavelmente menos pior do que um imbecil como Donald Trump na presidência dos EUA.

Saturday, February 13, 2016

Quem é o pai da crise de 1929 (Crash da bolsa de Nova Iorque)?

Documentário A grande crise de 1929, de Joanna Bartholomew:

É relativamente comum algumas pessoas desonestas afirmarem que toda a culpa pela crise de 1929 é da intervenção Estatal. Tal afirmação é um colossal disparate, coisa que na época não se ouvia porque os fatos provando o oposto eram evidentes e muito recentes. Uma ala da direita, tempos depois, buscou revisar a história e distorcer os fatos para que suas idéias não sejam vistas como a causadora da maior crise econômica até hoje. A tradição política em torno da liberdade foi uma constante na história dos EUA, assumindo diferentes significados. Primeiramente, no período colonial, a idéia de liberdade esteve ligada à religião. Progressivamente, tal concepção foi secularizada e logo se passou a conceber a liberdade conectada à obediência das leis. Os colonos, pouco a pouco, adotaram esta concepção de liberdade, que norteou a independência das 13 colônias, processo no qual a liberdade foi evocada como elemento ideológico. Com relação ao âmbito social norte americano, a liberdade se constituiu a partir da garantia do liberalismo político e econômico,  através de um Estado mínimo, pouco interventor e que dava liberdade para o mercado se auto-gerir, sendo esta clara herança do liberalismo clássico. Entretanto, no fim da década de 20, os EUA são afligidos com a Grande Depressão, que abalou as bases do liberalismo em todo mundo e diminuiu o crédito que o liberalismo tinha na época.

Em toda a sua história (especialmente antes de 1929), os EUA sempre foram receptivos aos ideais liberais e nunca se aproximaram dos conceitos socialistas. Isso é verificável em qualquer livro ou material de pesquisa histórica. Percebam que os trapaceiros nunca evidenciam isso, esse é o modus operanti de qualquer argumento desonesto, desde os Terra Planistas, passando pelos criacionistas até os negadores do aquecimento global. Todos descartam a ciência estabelecida, prometendo uma verdade que está somente neles e em alguns poucos lunáticos que os apóiam. Primeiro afirmam que os livros didáticos e, por subsequência, a academia de história é dominada pelo pensamento marxista, o que é uma desonestidade brutal, a academia de história é dominada pelo pensamento da Escola dos Analles; o trapaceiro precisa mentir e omitir para impor seu raso argumento.

Após à Primeira Guerra Mundial, os países europeus se tornam devedores dos EUA, isso fez com que a indústria de lá tivesse menos concorrentes fortes pelo mundo. A guerra trouxe muitos benefícios econômicos aos EUA. A produção de bens aumentou de maneira vertiginosa e a década de 20 foi marcada por um clima de euforia próprio do American Way of Life. Muitos americanos foram atraídos pelo rendimento a curto prazo, ações monetárias. Atribuir a crise de 29 a uma suposta intervenção estatal é uma das maiores idiotices que ainda se ouve por aí. O sistema capitalista busca sempre o lucro, e as metas são sempre maiores lucros; para que a meta seja alcançada, normalmente, a produção é sempre aumentada para o volume de vendas seja maior, o que geraria um aumento dos lucros. Acontece que toda empresa de um determinado segmento pensa assim, querem mais lucros e produzem mais; a questão é que em um mercado aquecido e competitivo, o resultado de tal ambição é a saturação do mercado, pois não há capacidade infinita de consumo, não importa o mercado (mesmo havendo exportação). Mais cedo ou mais tarde tal segmento entrará em crise porque produziram mais do que serão capazes de vender, o resultado disso não é um lucro maior, e sim um tremendo prejuízo. Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia estadunidense estava em pleno desenvolvimento. As indústrias de lá produziam e exportavam em grandes quantidades, principalmente, para os países europeus. Acontece que após a guerra, o quadro não mudou, pois os países europeus estavam voltados para a reconstrução das indústrias e cidades, necessitando manter suas importações, principalmente dos EUA. Esse período era crucial para que a indústria dos EUA pensassem que a Europa poderia diminuir o seu volume de importação após alguns anos, mas a ambição impediu tal reflexão; então a situação começou a mudar mesmo lá no final da década de 1920. Reconstruídas, as nações européias diminuíram drasticamente a importação de produtos industrializados e agrícolas dos Estados Unidos, até para que suas dívidas não crescessem ainda mais.

Com a diminuição das exportações para a Europa, as indústrias norte-americanas começaram a aumentar os estoques de produtos, pois já não conseguiam mais vender como antes. Grande parte destas empresas possuíam ações na Bolsa de Valores de Nova York e milhões de norte-americanos tinham investimentos nestas ações. Os lunáticos que buscam distorcer a historia costumam blefar ao afirmar que o estimulo dos grandes bancos em prover crédito para que os cidadãos comuns investissem sem critério na bolsa foi o início de tudo para a crise. Não citam que durante a década de 20 os EUA estavam passando por um boom econômico e com uma tradicional filosofia de governo que deixava claro a não interferência no mercado, tanto é que muitos não dizem nada sobre o presidente Herbert Hoover, que não fez nada para amenizar os efeitos da depressão por acreditar que o mercado se auto-regularia. Enquanto isso, 2000 mil bancos decretaram falência, a industria norte-americana perdeu 22% do seu valor. Em outubro de 1929, percebendo a desvalorizando das ações de muitas empresas estadunidenses, houve uma correria de investidores que pretendiam vender suas ações. O efeito foi devastador, pois as ações se desvalorizaram fortemente em poucos dias. Pessoas muito ricas, passaram, da noite para o dia, para a classe pobre. O número de falências de empresas foi enorme e o desemprego atingiu quase 30% dos trabalhadores. A primeira prerrogativa de qualquer trapeceiro que buscar distorcer a história é descartar a ciência estabelecida e apontar que a verdade está nele e em seu reduzido grupo de "pensadores". Eles se esforçam de verdade em convencer mais e mais ingénuos por aí; infelizmente, muitos até lhes dão ouvidos e ignoram os fatos. A crise interna, também conhecida como “A Grande Depressão”, foi a maior de toda a história dos Estados Unidos. Como nesta época, diversos países do mundo mantinham relações comerciais com os EUA, a crise acabou se espalhando por quase todos os continentes. 

Se dá crédito (pedido pelos empresários), a culpa é do Estado, se não dá crédito, a culpa é do Estado. O crédito foi dado, e quem fez uso do crédito mesmo? Alguém foi obrigado a usar o crédito? A polícia pôs armas na cabeça das pessoas para que usassem os créditos? A especulação e uso do crédito foram privados! Não importa a saída encontrada, a ônus sempre será dado ao Estado, é assim que os desonestos definem a história. É preciso apenas entender que crise de 1929 foi de superprodução e que atingiu todos os países capitalistas, uma vez que a integração econômica mundial permitiu isso. A capacidade de consumo dos países que mantinham relações econômicas com os EUA não foi capaz de acompanhar o ritmo da produção. A crise não foi nenhuma surpresa, uma vez que toda a prosperidade dos anos 20 não poderia ser mantida, justamente por ser artificial. A superprodução industrial motivou a desequilíbrio econômico, mas foi a especulação o verdadeiro golpe de misericórdia que tornou tal crise a maior até hoje. O sistema especulativo, que com seus lucros gerados pelas empresas de base dos holdings – que eram poucas e que, praticamente, sustentavam a economia –, não investia em atividades produtivas, mas, sim, em mais especulação, era um dentre vários pontos de incoerência na economia estadunidense (sem falar na clássica desigual distribuição de renda). 

 Mais tarde, quando houve a quebra nos EUA, a Europa quebra junto, já que o primeiro era o maior credor mundial. Para sair do apuro, as medidas da maioria dos países europeus foram se voltar para reconstrução de seus mercados internos, lançando mão de medidas protecionistas. Isso inspirou a intervenção Estatal tardia nos EUA através do New Deal (já com Franklin Delano Roosevelt na presidência), que se voltou predominantemente para a restruturação do mercado interno.


* Fonte:
ALONSO, Juan José. Herbert C. Hoover y Franklin D. Roosevelt: Depresión y New Deal. In: Los Estados Unidos de América: Historia y Cultura. Salamanca: Almar, 2002.

BOSCH, Aurora. Historia de Estados Unidos (1776-1945). Barcelona: Crítica. 2010.

CROUZET, Maurice. A Grande Depressão. In: História Geral das Civilizações. VII – A Época Contemporânea. São Paulo, Difel, 1977, p.p. 128-130. Apud. MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea Através de Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2004.p.p.159-160.

FONER, Eric. La Historia de la libertad en EE.UU. Barcelona: Ediciones Península, 2010.

LIONEL, Richard. A República de Weimar. São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p.p. 112-114. (Coleção a Vida Cotidiana). Apud. MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea Através de Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2004.p.p. 147-149.

HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

KARNAL, Leandro et Al. História dos Estados Unidos. São Paulo: Contexto, 2008.

LIONEL, Richard. A República de Weimar. São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p.p. 112-114. (Coleção a Vida Cotidiana). Apud. MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea Através de Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2004.p.p. 147-149.

MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea Através de Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2004.

Friday, February 12, 2016

A meritocracia é uma ilusão e a mobilidade social é um mito


A meritocracia é uma ilusão alimentada por exceções tão raras que diante da realidade evidente, se tornam até desprezíveis. A tal meritocracia deveria se basear em algum mérito para que o seu conceito faça algum sentido. A questão é que o tal mérito é sempre indefinível e passa longe de questões morais, muito menos das questões éticas. O discurso em si apenas tenta eliminar qualquer empatia para validar a idéia de que a miséria alheia é uma conseqüência justa, o que pode, na cabeça de certas pessoas, eliminar um provável peso na consciência de quem faz parte de uma sociedade desigual. Durante o século XX milhões e milhões de pessoas nasceram na pobreza, trabalharam muito a vida inteira e morreram pobres. A ilusão da meritocracia, que supostamente promove a justiça para quem tem mais mérito, apenas costuma ser visível para os mais abastados. Associada a isso, vemos um outro mito, o da mobilidade social. A ilusão da meritocracia e o mito da mobilidade social caminham juntos e são freqüentemente citados, até simultaneamente, mas sempre estão agarrados aos raros casos específicos onde uma excessão ilustra tais mitos e ilusões, mas jamais valida propriamente tal discurso. 

Normalmente, pesquisas sobre mobilidade econômica intergeracional ignora o contexto geográfico da infância, incluindo a qualidade da vizinhança e o poder de compra dos habitantes de um determinado bairro. Supõe-se que a variação individual na mobilidade intergeracional é em parte atribuível às condições regionais e de bairro, mais notavelmente o acesso às escolas de alta qualidade. Percebe-se que a renda média do bairro tem quase metade do efeito sobre as futuras rendas do que a renda dos pais de um morador. Estima-se, nos EUA, que a renda familiar de toda a vida seja de R $ 635.000 dólares maior se as pessoas nascidas em um bairro pobre tivessem sido criadas em um bairro de classe média alta. Quando as rendas são ajustadas ao poder de compra regional, estes efeitos tornam-se ainda maiores.

Simplesmente nascer em um bairro pobre impossibilita qualquer chance de haver mobilidade social a uma pessoa, e isso se aplica por décadas. Uma das razões para isso, é que sob o ponto de vista econômico, poucas coisas importam tanto para o nosso destino como o bairro em que nascemos e crescemos, acredite se quiser. A relevância disso está na redução de possibilidades materiais de seus habitantes. "Nos Estados Unidos gostamos de pensar que qualquer pessoa pode ir para onde quiser com base apenas em seus talentos e habilidades. Mas isso é cada vez menos o que acontece. O talento e a habilidade se contraem quando as pessoas estão presas em ambientes segregados." afirmou Douglas Massey, pesquisador da Universidade de Princeton. O que, atualmente, podemos considerar como ambientes segregados? Os guetos das grandes cidade do mundo.

De acordo com um estudo publicado em 2014 pelos pesquisadores Douglas Massey, da Universidade de Princeton, e Jonathan Rothwell, do Instituto Brookings, o simples fato de se mudar de um bairro precário para um melhor, não é suficiente para mudanças significativas. A pesquisa aponta que o local específico da cidade onde uma pessoa passa os primeiros 16 anos de sua vida é determinante na renda que ela terá muitas décadas depois, mesmo que mude seu local de residência diversas vezes. Deixando de lado a relativização, o conteúdo do estudo mostra que a possibilidade de ascensão e mobilidade social é ínfima e desde muito cedo definida na vida de cada pessoa. A segregação social é evidente sob o capitalismo, e diante de tal estudo é impossível não haver o debate sobre equidade, pois uma discussão sobre propostas até polêmicas de vários países, incluindo alguns latino-americanos, de levar habitantes de bairros pobres para viver em regiões mais ricas das cidades, é mais racional do que se apegar ao mito da mobilidade social ou da meritocracia. À medida em que a distribuição de renda fica mais desigual, ocorre o mesmo com a distribuição dos bairros. A concentração da riqueza e da pobreza aumenta. Os bairros pobres se tornaram mais pobres e fica mais difícil escapar do status socioeconômico da pobreza.

Quem mora nos guetos do mundo sabe que as experiências vividas no local de nascimento também são uma herança da qual é difícil escapar, pois o bairro é o ponto crítico onde se bloqueiam as aspirações das pessoas para subir na vida. Toda cidade tem duas realidades bem distintas e a perspectiva de vida de uma pessoa que vive em uma determinada realidade é totalmente diferente de quem vive em outra. Isso não é difícil de se observar, já que os bairros pobres, em qualquer lugar do planeta, tendem a ter taxas mais altas de desordem social, crime e violência. As pesquisas mostram cada vez mais que a exposição a este tipo de violência não tem somente efeitos de curto prazo, mas também de longo prazo na saúde e na capacidade cognitiva de seus moradores. Tais aspectos são permanentes e não se apagarão das pessoas, mesmo quando crescerem. A vida nos bairros mais carentes implica frequentar escolas de má qualidade, ficar mais longe das oportunidades de trabalho e mais perto dos focos de violência de nossas cidades. Garantir aos jovens de classes sociais mais baixas a oportunidade de começar suas vidas em regiões mais ricas pode ter um grande impacto positivo em suas trajetórias de vida.

Acabar com a segregação social é um passo importante para que o simples fato de nascer em determinado bairro não se transforme em uma sentença. Após a Segunda Guerra, Londres construiu moradias subsidiadas em bairros ricos, o governo ajudou as pessoas a se mudar de regiões de muita pobreza para áreas de classe média e alta, onde poderiam ter fácil acesso às vantagens que as comunidades mais abastadas oferecem. Viu-se que findar a segregação por bairros, a mesma que faz com que a vida de cidadãos de diferentes classes econômicas acabem tomando direções opostas em suas vidas, é quebrar o ciclo social estabelecido.

Recentemente, a proposta do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, de um programa piloto para levar habitantes pobres para viver em um conjunto de edifícios de um bairro rico causou polêmica na Colômbia. Perceba que as pessoas que defendem a ilusão da meritocracia e acreditam no mito da mobilidade social são exatamente as mesmas que se opõe veementemente aos projetos de mobilidade real. A Colômbia não foge a essa regra pois em Bogotá a proposta de Petro foi chamada por opositores de medida populista e classificada como uso pouco eficiente de recursos públicos escassos. Eles afirmam que estes recursos deveriam ser usados para melhorar as condições dos bairros pobres onde vive a maioria dos habitantes da capital colombiana. A ilusória meritocracia é sempre utilizada para criticar as medidas sociais usando a justificativa de que todos têm as mesmas oportunidades e que o mérito verdadeiro – o sucesso profissional, por exemplo – depende única e exclusivamente do esforço individual. Sabemos muito bem que a realidade não é tão simples quanto essa ilusão possa parecer.