Sunday, March 29, 2015

É liberalismo ou neoliberalismo?

Na verdade é tudo quase a mesma coisa, as diferenças são irrelevantes na prática, mas os liberais fazem questão de considerá-las. Tanto um termo quanto o outro se refere à uma opção totalmente danosa à sociedade e deve ser evitada.

O liberalismo é uma doutrina econômica surgida no século XVIII que se estendeu até a década de 1920. O liberalismo clássico perpetua o individualismo. Os três elementos fundamentais do liberalismo são a garantia da propriedade privada, a garantia dos excedentes monetários e a liberdade de usar os excedentes monetários. Sobre esses fundamentos os liberais aceitam as sandices docemente imaginadas por Adam Smith, que argumentou sempre existir uma tendência natural do ser humano para a troca e a barganha, na busca por saciar seus próprios interesses. Assim, teoricamente, os indivíduos estão contribuindo para o aumento automático da riqueza da sociedade, mesmo não sendo realmente este o intuito. É como se a sociedade se beneficiasse como um todo, porque cada um estaria buscando o melhor para si. E isso, segundo Smith, de forma natural, sem a necessidade de nenhuma intervenção estatal. Sim, é a tal "mão invisível", que na prática só nos rouba, mas na teoria liberal apenas leva os indivíduos a promoverem o bem-estar da sociedade de forma inconsciente, apenas com o objetivo de atender aos próprios interesses.

O problema, além da falta de noção da realidade, é que até teoricamente toda essa maravilha só é possível se, e somente se, houver um bom excedente de produção e o tal excedente só se aplica na nossa realidade se houver desigualdade, pois nem tudo produzido em uma sociedade necessariamente terá excedentes, assim os detentores dos meios de produção, seja rural ou seja urbano, passam a ter o poder (controlando ofertas e valores) pois se há escassez há poucas opções e assim sendo, nem todos poderão consumir do que necessitam. Os que são privados de suas necessidades se tornam miseráveis e os que não só saciam as suas necessidades e desejos, mas também gozam de abundância, se tornam ricos. O pensamento de que o liberalismo incentiva a todos a trabalharem mais para que tenham maior estoque do produto de seu trabalho, necessário para se trocar por outros bens de interesse, não está de todo errado, porém se você trabalha para alguém, o que você produz pertence à essa pessoa, caso trabalhe somente para você, o teu (por óbvias limitações físicas) limitado excedente será irrelevante para barganhar em um mercado dominado por produção alheia explorada. Assim se estabelece a desigualdade que o liberalismo precisa.

Já o Neoliberalismo é o ressurgimento, iniciado nas décadas de 1970 e 1980, de ideias associadas ao liberalismo econômico europeu através da Escola Monetarista do economista Milton Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973, provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo. Friedman, aliás, foi conselheiro econômico do Presidente republicano dos Estados Unidos Ronald Reagan. O conceito em questão reunia um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio teoricamente garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. Originalmente, o neoliberalismo (que nada mais era do que uma proposta para um novo liberalismo) emergiu, como previamente citado, entre acadêmicos liberais europeus ainda na década de 1930 e que tentava definir uma denominada "terceira via" entre as filosofias em conflito do liberalismo clássico e da economia planificada coletivista.

O Neoliberalismo ganharia força e visibilidade com o Consenso de Washington (receituário de medidas neoliberais), em 1989. Na ocasião, a líder do Reino Unido, Margareth Thatcher, e o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, propuseram os procedimentos do Neoliberalismo para todos os países, destacando que os investimentos nas áreas sociais deveriam ser direcionados para as empresas. No Brasil, o Neoliberalismo, mantido por Lula e Dilma, teve início ainda no governo Collor, e foi adotado abertamente nos dois governos consecutivos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em seus dois mandatos presidenciais houve várias privatizações de empresas estatais. Muito do dinheiro arrecadado foi usado para manter a cotação da nova moeda brasileira, o Real, equivalente a do dólar.

O curioso detalhe é que os liberais rejeitam com todas as suas forças o termo "neoliberalismo", para eles essa ideologia sequer existe e assim não pode nem ser considerada. Eles julgam o termo equivocado porque o neoliberalismo, segundo os mesmos, sempre foi negado pelos verdadeiros liberais (os clássicos) e seus fieis seguidores, já que a tal geração pioneira, da década de 30, era formada por nomes irrelevantes e esses apenas "deturparam" os argumentos de nomes como Mises, sobre a ótica de que o Estado poderia, sim, resolver tudo. Segundo eles, existe apenas o liberalismo e nada mais. Para alguns liberais, o neoliberalismo, que eles tanto rejeitam, é uma mera ilusão baseada no liberalismo (desculpem a redundância), já que as idéias propostas são de certa forma corporativistas e em alguns graus também anti-livre mercado por ter  relação com o ortoliberalismo, que  é uma escola de pensamento econômico do liberalismo, que enfatiza a necessidade do Estado assegurar a correção das imperfeições dos livre-mercados para permitir que se aproximem dos níveis de eficiência segundo o seu potencial teórico.

Sabemos que nenhuma corrente de pensamento pode negar que o capitalismo é completamente falho, a maior estupidez que pode acontecer, e infelizmente acontece, é continuar insistindo com esse sistema em um jogo absurdo de erros e acertos. Essa estupidez está intimamente relacionada à teimosia dos pensadores liberais, lacaios dos poderosos, que não admitem as falhas dos capitalismo, infelizmente, é por isso que ao invés de se mudar a estrutura, ficam apenas remendando as peças. A história já nos mostrou que a economia neoliberal só beneficia as grandes potências econômicas e as empresas multinacionais. Os países pobres ou em processo de desenvolvimento, como o Brasil, sofrem com os resultados de uma política neoliberal. Nestes países, justamente por causa das políticas baseadas no neoliberalismo, vemos desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e dependência do capital internacional. Defensores das idéias liberais teimosamente insistem em não admitir que os problemas que essas idéias causa só tendem a torna-se ainda mais crônicos; vejamos as palavras de Carlos Alberto Sardenberg sobre um recente exemplo da incapacidade liberal de sucesso, que economistas como ele, fazem questão de ignorar ou minimizar: "Alguns chegaram a dizer que a falência do banco Lehman Brothers estava para o capitalismo assim como a queda do Muro de Berlim esteve para o socialismo. Bobagem... Quanto mais capitalismo, melhor; quanto mais mercado livre, melhor". O caso do banco Lehman Brothers está relacionado a crise mundial de 2008, pessoas como Sardenberg parecem caçoar das pessoas que sofreram diretamente com essa crise, que infelizmente não será a última.

No comments:

Post a Comment