Friday, March 27, 2015

Liberalismo X Imperialismo

Há alguma relação entre os liberais e os imperialistas? Bom, vamos por partes. Faremos uma breve viagem histórica para mostrar essa relação. O imperialismo vem sendo praticado por um grupo de nações, a partir do século XIX.Porém muitos defensores do liberalismo ou neo-liberalismo afirmam que não há relação entre o livre mercado e o conceito de "Imperialismo". Acontece que na prática, vemos indícios que apontam para o contrário. Eles sustentam a velha história de que o comércio é feito de perdedores e vencedores, onde, para que um ganhe, outro tem que perder. Vemos que diferentemente do que ocorre na Economia planificada, na Economia de mercado (liberal) a maior parte da produção econômica é gerada pela iniciativa privada. Assim, Indústria, comércio e prestação de serviços são controlados por cidadãos particulares, ou seja, são empresas do setor privado que detêm a maior parcela dos meios de produção. Pode-se, então, afirmar que nos países denominados capitalistas, onde o estado é praticamente um observador, há uma economia de mercado (liberal). Mas quem domina esses países? O lobby; como já falamos anteriormente, quando um texto aqui publicado em 2013 mostrou a força dos lobistas no congresso brasileiro como exemplo. O lobby influencia diretamente os governos.

Na teoria o livre mercado é feito de trocas aparentemente voluntárias, onde indivíduos trocam produtos ou serviços através de transações. Os liberais ressaltam que o imperialismo é sempre baseado na força dos agentes, onde o mais forte obriga o outro a realizar uma troca. Os defensores do liberalismo afirmam que no primeiro caso, ambos ganham, enquanto no segundo caso (imperialismo) há um jogo de “soma zero”, onde um ganha e o outro perde. Podemos citar como exemplo os EUA como um promotor do imperialismo no mundo. Através dessa política, os EUA se beneficiam economicamente ao influenciar ou fazer imposições culturais e políticas em um outro país. Mas benefícios econômicos como? Através das empresas estadunidenses que passam a lucrar nesse outro país, essas empresas são observadas e protegidas pelo governo dos EUA que sustenta o discurso do livre mercado.

A política imperialista é atual, mas nasceu de longínquas alianças entre os governos e grandes empresários. Como os segundos controlavam os primeiros, era simples fazer com que a conquista de terras e mercados além-mar deixassem de ser apenas um interesse de poucos, para se tornar interesse da nação inteira. Dessa forma, as potências lá do século XIX passaram a mobilizar tropas, produzir armamentos e até mesmo inventar motivos de caráter civilizador para dominar países asiáticos, africanos e latinos. Vale ressaltar que essa grande operação não era apenas bancada com o capital dos empresários, mas também dos pagadores de impostos. Sem falar que os ganhos obtidos pelo país explorador não compensavam os altos custos para dominar certa região. O lucro, portanto, desde aquela época, era privado e o prejuízo era coletivo.

O preço que os povos dominados nesse período pagaram já é do conhecimento de todos os leitores. Estes foram sim explorados e escravizados, uma vez que não só eram obrigados a trabalhar como também eram constantemente tratados com violência pelos dominadores. Por mais que algumas potências da época fossem contra a escravidão, como posteriormente foi o caso do Reino Unido, suas razões estavam longe de ser em prol dos direitos humanos. Hoje o escravo deu lugar ao funcionário assalariado que trabalha em condições insalubres para dar lucros a uma empresa estrangeira que não dá a mínima para as condições desses trabalhadores.
Em regiões como o continente africano, onde a opinião pública no século XIX era irrelevante, escravizar ou forçar um indivíduo a trabalhar era muito mais fácil, principalmente quando as tropas do estado ajudavam na coerção. Com isso, era melhor acabar com o comércio de escravos para que estes pudessem ser usados como mão de obra em sua terra natal. Isso explica as ações contra navios negreiros por parte dos ingleses, no Atlântico. Queriam mais gente trabalhando direta ou indiretamente, como funcionários ou consumidores, para as empresas inglesas terem mais lucros.

O livre mercado é, portanto, a máscara usada pelos imperialistas para darem uma cara mais humana às suas ações.  A planificação geral das relações internacionais, onde o estado e os grandes empresários vão a outros países para roubar riquezas e subjugar povos não é compatível com a bela teoria de trocas voluntárias, pregada pelos defensores do liberalismo. Porém, o imperialismo é uma política variante do capitalismo, pois é conseqüência do mesmo. Essa específica visão política e econômica vai além de um mero relacionamento entre o Rei e vários amigos comerciantes (hoje substituídos por presidentes e lobistas). Tal relacionamento criou vários filhos, desde a Era das Grandes Navegações, que acabaram por reduzir a liberdade, espalhando miséria pelo mundo durante séculos.

A resposta para a pergunta do início do texto é sim. Imperialistas e liberais tem relações quiçá íntimas, o tempo passou mas a política imperialista basicamente é a mesma. Durante a passagem dos séculos houve uma espécie de passagem de bastão imperialista, já que a hegemonia britânica diminuiu com o tempo, ao passo que a influencia do seu filho rebelde, EUA, exorbitou-se nos 200 anos seguintes. Os estadunidenses promovem guerras, financiam conflitos e golpes de estado para continuarem lucrando mundo afora. Desde o fim do século XIX os imperialistas se dizem liberais e democratas, mas não agem como se definem.

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