Documentário A grande crise de 1929, de Joanna Bartholomew:
É relativamente comum algumas pessoas desonestas afirmarem que toda a culpa pela crise de 1929 é da intervenção Estatal. Tal afirmação é um colossal disparate, coisa que na época não se ouvia porque os fatos provando o oposto eram evidentes e muito recentes. Uma ala da direita, tempos depois, buscou revisar a história e distorcer os fatos para que suas idéias não sejam vistas como a causadora da maior crise econômica até hoje. A tradição política em torno da liberdade foi uma constante na história dos EUA, assumindo diferentes significados. Primeiramente, no período colonial, a idéia de liberdade esteve ligada à religião. Progressivamente, tal concepção foi secularizada e logo se passou a conceber a liberdade conectada à obediência das leis. Os colonos, pouco a pouco, adotaram esta concepção de liberdade, que norteou a independência das 13 colônias, processo no qual a liberdade foi evocada como elemento ideológico. Com relação ao âmbito social norte americano, a liberdade se constituiu a partir da garantia do liberalismo político e econômico, através de um Estado mínimo, pouco interventor e que dava liberdade para o mercado se auto-gerir, sendo esta clara herança do liberalismo clássico. Entretanto, no fim da década de 20, os EUA são afligidos com a Grande Depressão, que abalou as bases do liberalismo em todo mundo e diminuiu o crédito que o liberalismo tinha na época.
Em toda a sua história (especialmente antes de 1929), os EUA sempre foram receptivos aos ideais liberais e nunca se aproximaram dos conceitos socialistas. Isso é verificável em qualquer livro ou material de pesquisa histórica. Percebam que os trapaceiros nunca evidenciam isso, esse é o modus operanti de qualquer argumento desonesto, desde os Terra Planistas, passando pelos criacionistas até os negadores do aquecimento global. Todos descartam a ciência estabelecida, prometendo uma verdade que está somente neles e em alguns poucos lunáticos que os apóiam. Primeiro afirmam que os livros didáticos e, por subsequência, a academia de história é dominada pelo pensamento marxista, o que é uma desonestidade brutal, a academia de história é dominada pelo pensamento da Escola dos Analles; o trapaceiro precisa mentir e omitir para impor seu raso argumento.
Após à Primeira Guerra Mundial, os países europeus se tornam devedores dos EUA, isso fez com que a indústria de lá tivesse menos concorrentes fortes pelo mundo. A guerra trouxe muitos benefícios econômicos aos EUA. A produção de bens aumentou de maneira vertiginosa e a década de 20 foi marcada por um clima de euforia próprio do American Way of Life. Muitos americanos foram atraídos pelo rendimento a curto prazo, ações monetárias. Atribuir a crise de 29 a uma suposta intervenção estatal é uma das maiores idiotices que ainda se ouve por aí. O sistema capitalista busca sempre o lucro, e as metas são sempre maiores lucros; para que a meta seja alcançada, normalmente, a produção é sempre aumentada para o volume de vendas seja maior, o que geraria um aumento dos lucros. Acontece que toda empresa de um determinado segmento pensa assim, querem mais lucros e produzem mais; a questão é que em um mercado aquecido e competitivo, o resultado de tal ambição é a saturação do mercado, pois não há capacidade infinita de consumo, não importa o mercado (mesmo havendo exportação). Mais cedo ou mais tarde tal segmento entrará em crise porque produziram mais do que serão capazes de vender, o resultado disso não é um lucro maior, e sim um tremendo prejuízo. Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia estadunidense estava em pleno desenvolvimento. As indústrias de lá produziam e exportavam em grandes quantidades, principalmente, para os países europeus. Acontece que após a guerra, o quadro não mudou, pois os países europeus estavam voltados para a reconstrução das indústrias e cidades, necessitando manter suas importações, principalmente dos EUA. Esse período era crucial para que a indústria dos EUA pensassem que a Europa poderia diminuir o seu volume de importação após alguns anos, mas a ambição impediu tal reflexão; então a situação começou a mudar mesmo lá no final da década de 1920. Reconstruídas, as nações européias diminuíram drasticamente a importação de produtos industrializados e agrícolas dos Estados Unidos, até para que suas dívidas não crescessem ainda mais.
Com a diminuição das exportações para a Europa, as indústrias norte-americanas começaram a aumentar os estoques de produtos, pois já não conseguiam mais vender como antes. Grande parte destas empresas possuíam ações na Bolsa de Valores de Nova York e milhões de norte-americanos tinham investimentos nestas ações. Os lunáticos que buscam distorcer a historia costumam blefar ao afirmar que o estimulo dos grandes bancos em prover crédito para que os cidadãos comuns investissem sem critério na bolsa foi o início de tudo para a crise. Não citam que durante a década de 20 os EUA estavam passando por um boom econômico e com uma tradicional filosofia de governo que deixava claro a não interferência no mercado, tanto é que muitos não dizem nada sobre o presidente Herbert Hoover, que não fez nada para amenizar os efeitos da depressão por acreditar que o mercado se auto-regularia. Enquanto isso, 2000 mil bancos decretaram falência, a industria norte-americana perdeu 22% do seu valor. Em outubro de 1929, percebendo a desvalorizando das ações de muitas empresas estadunidenses, houve uma correria de investidores que pretendiam vender suas ações. O efeito foi devastador, pois as ações se desvalorizaram fortemente em poucos dias. Pessoas muito ricas, passaram, da noite para o dia, para a classe pobre. O número de falências de empresas foi enorme e o desemprego atingiu quase 30% dos trabalhadores. A primeira prerrogativa de qualquer trapeceiro que buscar distorcer a história é descartar a ciência estabelecida e apontar que a verdade está nele e em seu reduzido grupo de "pensadores". Eles se esforçam de verdade em convencer mais e mais ingénuos por aí; infelizmente, muitos até lhes dão ouvidos e ignoram os fatos. A crise interna, também conhecida como “A Grande Depressão”, foi a maior de toda a história dos Estados Unidos. Como nesta época, diversos países do mundo mantinham relações comerciais com os EUA, a crise acabou se espalhando por quase todos os continentes.
Se dá crédito (pedido pelos empresários), a culpa é do Estado, se não dá crédito, a culpa é do Estado. O crédito foi dado, e quem fez uso do crédito mesmo? Alguém foi obrigado a usar o crédito? A polícia pôs armas na cabeça das pessoas para que usassem os créditos? A especulação e uso do crédito foram privados! Não importa a saída encontrada, a ônus sempre será dado ao Estado, é assim que os desonestos definem a história. É preciso apenas entender que crise de 1929 foi de superprodução e que atingiu todos os países capitalistas, uma vez que a integração econômica mundial permitiu isso. A capacidade de consumo dos países que mantinham relações econômicas com os EUA não foi capaz de acompanhar o ritmo da produção. A crise não foi nenhuma surpresa, uma vez que toda a prosperidade dos anos 20 não poderia ser mantida, justamente por ser artificial. A superprodução industrial motivou a desequilíbrio econômico, mas foi a especulação o verdadeiro golpe de misericórdia que tornou tal crise a maior até hoje. O sistema especulativo, que com seus lucros gerados pelas empresas de base dos holdings – que eram poucas e que, praticamente, sustentavam a economia –, não investia em atividades produtivas, mas, sim, em mais especulação, era um dentre vários pontos de incoerência na economia estadunidense (sem falar na clássica desigual distribuição de renda).
Mais tarde, quando houve a quebra nos EUA, a Europa quebra junto, já que o primeiro era o maior credor mundial. Para sair do apuro, as medidas da maioria dos países europeus foram se voltar para reconstrução de seus mercados internos, lançando mão de medidas protecionistas. Isso inspirou a intervenção Estatal tardia nos EUA através do New Deal (já com Franklin Delano Roosevelt na presidência), que se voltou predominantemente para a restruturação do mercado interno.
* Fonte:
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