Saturday, March 5, 2016

O imperialismo nunca escutou a voz de um povo.


Pense um pouco e conte quantas revoluções populares desde o fim do séc. IX não foram abraçadas pela esquerda? Não é a direita que sente a dor de um povo e ouve a sua voz suplicando por mudanças. Kim Il Sung se tornou líder na Coréia, e não apenas no norte, por ser o único líder da resistência antijaponesa que sobreviveu na luta por uma Coreia independente; quem lutou pela formação de uma Coreia unida e livre sempre foram os socialistas, desde os tempo de ocupação japonesa na península.

O imperialismo nunca escutou a voz de um povo, o curso natural da história levaria a uma Coreia socialista e unida, mas os EUA mudaram esse curso, de acordo com as suas conveniências e nada mais. Vejamos que o Japão invade a península coreana e ocupa a região de 1910 a 1945 transformando-a em uma colônia. Esse período foi marcado por muita opressão ao povo nativo, nessa época nasceu o movimento de resistência contra a ocupação japonesa na Coreia que era basicamente formado por socialistas e nacionalistas, entre eles estava Kim Il Sung. Com a derrota na Segunda Guerra e a sua oficial rendição no dia 2 de setembro de 1945, o Japão perdeu todos os seus territórios conquistados. A guerrilha socialista antijaponesa e os movimentos nacionalistas da Coreia criaram Comitês Revolucionários por todo o país, os quais se reuniram em assembleia em Seul e proclamaram a República Popular da Coreia em 6 de setembro de 1945. Dois dias depois, os americanos desembarcaram e ocuparam o sul da Coreia, enquanto dissolviam os Comitês, efetuavam prisões e traziam dos EUA Syngman Rhee para formar um governo apoiado por notáveis pró-japoneses. Rhee rapidamente organizou esquadrões da morte para eliminar ou intimidar os políticos rivais. No norte, manteve-se então a República Popular, liderada pelo jovem comunista Kim Il Sung, e foi implementada uma reforma agrária que consolidou o apoio ao regime. Uma comissão da ONU declarou Syngman Rhee governante do sul, apesar da violência política. Três anos após a divisão da península coreana (sul capitalista e norte socialista) muitas revoltas populares eclodiram no sul, reivindicando a unificação. Os líderes pró-unificação foram assassinados pela polícia do sul. Em 1948, eclodiram revoltas populares nas províncias sulistas de Yosu e Cheju Do, e líderes moderados pró-unificação foram assassinados, ao passo que os soviéticos, se retiravam do norte, como era previsto nos acordos feitos com o ocidente.

Já em 1950, tropas do sul alegaram ter tomado a cidade de Haeju, no oeste, cruzando a fronteira. Tal ação gerou um combate de larga escala por toda a fronteira, mostrando que foi o Sul que começou a guerra. Nos primeiros meses de 1950, Syngman Rhee tinha ordenado massacres e, posteriormente, crimes de guerra contra cidadãos suspeitos de serem comunistas ou simpatizantes; esses episódios ficaram conhecidos como massacres das Ligas Bodo. Documentos oficiais dos EUA relatam testemunhos de oficiais estadunidenses que presenciaram e fotografaram os massacres. Um episódio, após o início do conflito Norte Sul, foi relatado à Washington, pelo general Douglas MacArthur, no entanto não houve nota oficial da Casa Branca sobre o assunto. A reação do lado norte foi tentar acabar de uma vez por todas com os massacres e consequentemente reunificar a Coreia.

É preciso saber que o povo coreano nunca desejou a divisão do país, mas desde a Conferência de Potsdam, após o fim da Segunda Guerra, os Aliados decidiram, unilateralmente, dividir a península coreana. Os EUA não cumpriram com o acertado na Conferência de Moscou, em 1945, que era permitir a formação de um único governo livre para a Coreia. O veterano diplomada estadunidense George F. Kennan, que estava servindo na embaixada de Moscou, observou em loco, com preocupação, a postura do secretário de Estado dos EUA, James Byrnes, e escreveu no seu diário: "As realidades por trás deste acordo, uma vez que dizem respeito apenas aos coreanos, romenos e iranianos, sobre os quais ele não sabe nada, não dizem respeito a ele. Ele quer um acordo para o seu efeito político em casa. Os russos sabem disso. Eles vão ver que para este sucesso superficial ele paga um preço alto nas coisas que são reais ". Os coreanos foram excluídos de todas as negociações; por isso o norte não se conformou com a divisão arbitrária, contra a vontade do próprio povo coreano, e buscou a reunificação da Coréia.

Com a tomada de Haeju, o norte decidiu responder com a Operação Pokpoong, que contou com 200 mil homens. As tropas do norte cruzaram a fronteira no dia 25 de junho; dois dias depois Syngman Rhee ordenou a evacuação da capital Seul. O avanço rápido das forças norte-coreanas para sul deve-se apenas em parte a razões militares. É, em certo sentido, consequência da falta de apoio popular que o regime de Syngman Rhee tinha. Segundo relata o livro "South to the Naktong, North to the Yalu" (1961), de Roy E. Applemanb, o exército sul-coreano “desintegrou-se”, havendo deserções em massa. Em 28 de junho as tropas do norte tomam a capital do sul, onde 48 integrantes do congresso nacional, declararam lealdade aos socialistas. Temendo que mais tarde os chineses e o soviéticos pudessem intervir militarmente em favor do norte, fazendo com que o conflito tomasse maiores proporções, os EUA entram de vez na guerra. Porém, em 27 de junho, os russos haviam enviado um comunicado indireto dizendo que não interfeririam no conflito da Coreia, abrindo assim uma brecha para os EUA intervirem com tropas sob a bandeira da ONU, para não haver reação das demais potências do mundo comunista. Mas em 18 de outubro de 1950 a China envia 300 mil soldados para a Coreia como resposta a "agressão americana sob o disfarce da ONU".

O conflito durou até 1953, como uma queda de braço onde não se aponta o vencedor. Porém, apesar de milhares de mortes, tudo voltou como era antes de 25 de julho de 1950, com um povo divido contra a sua vontade, uma terra arrasada e repartida, exatamente como os imperialistas sempre quiseram. O imperialismo nunca escutou a voz de um povo. O Norte ficou relegado justamente à porção de terra da península menos fértil, pois a maior parte do solo da região é rochoso, impróprio para a agricultura e durante o rigoroso inverno não é possível colher quase nada do que se produz. Enquanto o norte tinha que superar sozinho os seus desafios, o sul tinha uma realidade menos dura contando com a ajuda externa dos EUA. Os capitalistas do sul receberam como forma de "donativo" mais de 3100 milhões de dólares, apenas entre 1945 e 1961. O valor foi o dobro do que foi recebido pelo trio Bélgica/Luxemburgo/Holanda durante o Plano Marshall, mais de um terço do que a França recebeu e mais de 10% do que a Grã-Bretanha obteve; os "donativos" recebidos pelo sul, entre 1945 e 1961, foram superiores ao total dos empréstimos concedidos pelo Banco Mundial ao conjunto dos países em desenvolvimento, que conquistaram a independência. E isso foi só o começo da ajuda ao sul. Mas o quê o ocidente reservou ao norte? Nada além de canções econômicas e calunias midiáticas. Por quê? Porque o imperialismo nunca escutou a voz de um povo.

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